Vinicius Expedito

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05/08/2010

QUANTIDADE NÃO É DOCUMENTO!

Parece consenso que várias instituições da sociedade brasileira merecem debates e discussões quanto a sua qualidade de funcionamento. Universidades, hospitais, órgãos de segurança pública e, em última análise, o sistema administrativo público, estão enfermos. Criados para bem servir e garantir o crescimento da comunidade, funcionam muitas vezes sem atingir a totalidade de seu potencial produtor de bem estar social.
As universidades públicas em específico passam por um período de deterioração da maior gravidade. Foram montadas em sua maior parte durante a ditadura militar, com um intuito primário de aumentar a fração da sociedade com acesso ao ensino superior. O seu poder de enriquecer uma comunidade, seja a família ou a nação, será imensurável se bem funcionarem. Formando profissionais com boa qualificação e pobre cidadania, pecarão por não exercer uma importante face de seu poder educacional. Se, além de não nos fazerem cidadãos, oferecerem instrução técnica de baixa qualidade, tomam-se deletérias à sociedade.

As escolas médicas têm um grande potencial de bem educar. Sofreram, porém, com o processo mal planejado que garantiria um número maior de profissionais de educação superior. O inchaço de vagas que ocorreu na década de 1960 se sustentou numa estrutura educacional proporcionalmente pequena e frágil, que poderia perecer cedo ou tarde. Os currículos se lotaram de disciplinas pouco úteis, criadas para preencher horários de alunos e professores. Indivíduos sem qualificação suficiente foram improvisados para lecionar e instruir. Um ciclo vicioso perigoso se instalou.

A Faculdade de Medicina da UFMG não ficou de fora. lnflou-se. Não criou uma estrutura educacional forte que pudesse se atualizar e comportar seus 320 alunos por ano. Não tem atualmente um movimento ativo de discussão. Tem, ao contrário, um movimento estudantil frouxo, débil e pouco reinvindicatório e uma classe docente resignada.

Inevitavelmente, os defeitos de funcionamento passam desapercebidos. O poder deletério dos profissionais formados nesse contexto não deve ser ignorado.

Que outro fator, aliás, tem capacidade de destruição maior do que a formação de maus profissionais médicos? Nenhum, talvez, considerada a notável influência desses indivíduos na sociedade. Discutirão defeitos sociais se bem formados. Terão uma grande energia destruidora se forem incapazes.

O processo de deterioração tem se agravado por má assistência governamental. Um choque neoliberal vil tem deixado grandes escolas e instituições à deriva. Presídios e hospitais são nítidos exemplos de que a tentativa de atingir um número maior de pessoas sem planejamento quase nunca funciona. Incham e padecem, apesar da crescente demanda por saúde e recuperação de criminosos.

Tudo deveria estar sendo avaliado. Bem avaliado. O Exame Nacional de Cursos -"Provão" - sabidamente não é completo. Também não deve ser desprezado. Um penoso "B para "uma das maiores do país" não pode ser ignorado. Pode, sim, ser um sério indício diagnóstico. Trezentos e vinte novos médicos por ano sem garantia de boa qualificação podem deteriorar a sociedade. Quantidade não é documento.

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